sábado, 22 de outubro de 2011

CONTO: LUA VERMELHA




A luz prateada da lua cheia iluminava parcamente a estrada.
Os três estavam apavorados.

Os cavalos agitavam-se em pânico, sentindo o que aconteceria, seus instintos os forçavam a tentar escapar de todo jeito e ambos se debatiam ferozmente enquanto Maria chorava em meio a soluços e seu corpo tremia devido ao pânico e ao frio invernal, nem mesmo o casaco de pele de raposa ajudava a diminuir a sensação. A garota tentava abafar seus gemidos de pavor apertando seu rosto contra o colo de sua gélida mãe e aos poucos o calor voltava em seu rosto, porém o calor não vinha da segurança materna, ou das vestes grossas e bem trabalhadas que ela vestia, mas sim do sangue que escorria farto do seu pescoço dilacerado em segundos sem dar-lhe a chance de umas palavras finais. Momentos depois o solo estava forrado de vermelho sangue, o mesmo solo que antes estava inteiramente coberto do branco vindo da neve.

Atordoada e em pânico Maria agarrava-se com força, não aceitando que aquilo fosse verdade, tinha a certeza que estava sonhando, estava presa no mais terrível dos pesadelos e que em pouco tempo seria acordada. Ela tentava em vão gritar por sua mãe, mas os soluços a impediam de falar, seus cabelos castanhos agora estavam banhados em vermelho, o vermelho da morte trágica.

Protegidos pela escuridão os agressores sorriam em júbilo doentio.

Markus gritava desafios vazios contra os agressores ocultos, agredia debilmente o ar com sua velha espada longa enferrujada, quase não tinha forças para se manter de pé, em questão de segundos havia sido atingido no rosto, pescoço e na perna direita, seu sangue se misturava ao chão com o de sua esposa que jazia morta sentada ao chão encostada na roda dianteira da carroça. Enquanto golpeava o ar na tentativa frustrada de atingir algum dos agressores Markus viu o caminho de sangue deixado pelo corpo de Antoni, seu garotinho que fora arrastado ainda vivo e em meio a gritos desesperados para a escuridão noturna da floresta, ainda agora podiam escutar os ossos de seu garotinho serem destruídos apenas para satisfazer o desejo doentio daqueles seres infernais. Antoni, um garoto cheio de vida e desejos, aprendia a tocar flauta e praticava com afinco todos os dias, Antoni o garoto alegre que animava a todos com suas histórias inventadas e com suas musicas alegres durante as viagens.

Seu garotinho agora estava morto em algum lugar daquela imensidão escura, Maria sua única menina chorava abraçada ao corpo inerte de Petra sua mãe. Markus não aguentaria por muito tempo, seu olho direito estava dilacerado e sua perna já não era sentida com firmeza, a dor era agonizante, de seu pescoço escorria um rio escarlate e a cada gota parte da vida e das forças se esvaíam. Mas o pior era olhar para a sua família naquele estado. Por fim Makus sucumbiu aos ferimentos e a dor, ou talvez a loucura havia dominado sua mente por completo. O Pai de família deixou-se cair na neve sem forças para continuar a tentar proteger os seus, ou o que restou deles. A queda foi dolorosa, mas essa era uma dor na alma, Markus falhou na preteção dos seus e agora estavam mortos.

Os agressores se movimentaram, seus passos podiam ser escutados e seguidos pela neve, eles pisavam em folhas e galhos, pareciam querer mostrar onde estavam. Os ruídos dos ossos do pequeno Antoni sendo destruídos já não se faziam presentes, murmúrios indecifráceis vinham acompanhados de pequenas gargalhadas. Olhos brilharam na escuridão e Maria fechou os olhos com força desejando ser retirada daquele terror. Uma mão apertou seu ombro, ela gritou com medo e sentiu seu coração palpitar forte e dolorosamente. Uma voz urgente e familiar foi escutada, ainda com medo Maria olhou para quem lhe tocava, era Khan, seu irmão mais velho. Antes que a jovem falasse algo Khan fez sinal para que ela ficasse calada, segurando em sua mão direita começou a se arrastar pela neve tentando leva-la para longe, perdendo de vista atrás de si os corpos de seus pais. Os sons da carne e dos ossos sendo dilacerados retornou. A cada osso que se ouvia ser quebrado Maria se contorcia, como se sentisse na própria pele a dor.

Por mais que se arrastassem para longe ainda conseguiam ouvir com clareza os passos, murmúrios e gargalhadas dos agressores. O medo não lhes abandonava.

Algo caiu ao lado dos irmãos, mesmo na penumbra eles conseguiram perceber o que era, a cabeça de Markus, arranhada, mordida, deformada. Maria não conseguiu segurar um grito de espanto e terror, Khain segurou com firmeza a mão de sua irmãzinha e abaixou a cabeça na neve ao perceber que estavam rodeados. Não havia escapatória.

Os agressores atacaram novamente, agora que os irmãos eram as vitimas conseguiram vislumbrar seus algozes, eram homens, tinham caninos salientes como os das feras, suas unhas eram garras afiadas, sorriam como se a cena de terror fosse apenas diversão para eles. Um deles se aproximou lentamente com um sorriso maligno na face e ao vê-lo chegando tão próximo Maria chorou copiosamente, mas suas lágrimas trouxeram mais alegria aos seus agressores.

Os irmãos gritaram e gemeram, seus ossos e suas carnes foram dilaceradas para alimentar aquelas feras. Seu sangue manchou o solo.
E mais gargalhadas foram dadas durante a noite.

3 comentários:

  1. Me prendeu do inicio ao fim...E olhe que sou preguiçosa para letras pequenas! ^^ Gostei MUITO!

    ResponderExcluir
  2. Lembro-me do pedido que te fiz, e tambem me lembro da disposição que, como sempre, você teve ao criar esta narrativa. Deixo apenas um conselho: exclua os espaços entre os paragráfos, e faça com que fique melhor apresentável o texto na página, mas tirando isso seu texto tá ao meu gosto; nada de muito bonitinho, e com um final trágico. Você só tende a melhorar.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  3. gosteis dos ossos dilaceradas *-*adoro essas coisas. Muito bom .Preta

    ResponderExcluir