quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CONTO: SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS


As mãos fortes empunhavam com honra e orgulho a espada de seus ancestrais, a lámina que lhe foi entregue por seu pai golpeava sem piedade aqueles que atravessavam o caminho do guerreiro. Enquanto corria o homem girou a lámina sobre sua cabeça e arrancou a cabeça daquele que se erguia imponente em sua frente.

O campo de batalha não é um lugar para mulheres ou crianças, naquele campo de batalha não havia homens, naquele momento eram feras, bestas do abismo que dominaram os corpos daqueles homens. O vermelho dos olhos presente nos vivos e nos mortos, e os rugidos de fúria eram suficientes para provar que a humanidade e compaixão já não mais existiam naquele local.

A morte pairava sobre todos desde o raiar do sol, horas haviam se passado, centenas morreram, poucos permaneciam de pé. A tensão crescente a cada momento terminou com as palavras profanas de ambos os lados, seguidos da marcha rumo à destruição e o som dos escutos se chocando retumbou por quilometros.

Seu caminhar era agora lento e traiçoeiro, companheiros e inimigos caidos mortos ao chão poderiam lhe tirar a glória e a vida num segundo de distração.

Parou por alguns segundos, atordoado pela visão da verdade, muitos amigos estavam mortos, ele estava proximo do mesmo destino. Olhou ao redor e vislumbrou o terror, o medo e a dor nos olhos dos mortos. Gritos de terror e agonia eram ouvidos, ecoavam pelo campo vasto onde os tons de verde e vermelho no solo se misturava ao tom laranja do céu ao entardecer. O chão estava lamacento, mas não chovia há dias, seus passos estavam pesados, poças de lama vermelha tentavam segura-lo, impediam seus passos ligeiros, talvez suplicassem para que as mortes cessassem, mas não havia volta agora.

O sangue e o suor se misturavam enquanto caminhava rumo ao seu inimigo, assustou-se quando uma lança longa foi arremessada contra sua cabeça, por puro reflexo conseguio evitar a morte arremessando-se ao chão. Deitado sobre o peito de um inimigo morto com um corte profundo na garganta sentiu pena daquele pobre homem, mesmo com o rosto coberto por lama e sangue percebeu que ele havia chorado momentos antes de morrer, a dor e o medo do desconhecido deveriam ter aterrorizado aquela alma nos últimos segundos de vida.

Buscou forças que achava não mais existirem e ergueu seu corpo, agora mirava seu inimigo nos olhos, este não segurava mais nenhuma lança somente espada e escudo. Em segundos já estavam engajados no último combate da vida de algum deles, um combate que não seria definido pela força dos braços ou pelo fio das láminas, mas sim pela força de vontade, pelo desejo de viver, pela atenção e reflexos.

Os olhos não se evitavam e os musculos se mantinham firmes, ambos os lutadores estavam atentos ao menor dos movimentos, nenhum deles ousaria exitar por um segundo que fosse. As espadas quase não tinham fio, gastas devido ao longo dia de mortes pareciam dois porretes, mas naquele momento não importava.

Pouco depois o combate estava decidido.

O lanceiro foi ao chão com força com as mãos na barriga, tentava desesperadamente segurar o sangue que escorria farto, um esforço inútil, pouco depois estava inerte, seu sangue se misturando aos de tantos outros que deram a vida por nada, uma briga que não lhes pertencia, porém foram obrigados a lutar honrando juramentos antigos. Mas dentro em breve outro cairia, a força de vontade e desejo de viver de ambos era identica.

Estava tudo acabado para ele, o ferimento profundo causado pela lâmina de uma espada estava ali para provar. Sentia frio por dentro, mas sua pele estava quente, o sangue jorrava farto, o calor que acompanhava o rio vermelho que nascia de seu do seu proprio corpo era seu único conforto naqueles últimos momentos. Em breve nada mais importaria, fecharia seus olhos para sempre, ou até que seu deus lhe acordasse para julgar se merecia passar a eternidade com seus antepassados.

O joelho esquerdo cedeu ao peso e ao cansaço, a mão direita segurava firme a espada, não largaria por nada, morreria como um guerreiro, empunhando com orgulho sua espada. A mão esquerda foi ao peito, sentiu o calor de seu sangue e sorrio um sorriso de alivio e desespero, estava acabado e sabia disso.
Não demoraria muito mais.

Seu peso era insuportável, não aguentava mais se manter ajoelhado, como um saco de pedras foi pesado ao chão, gastou suas últimas forças para mover o corpo um pouco e ficar com as costas ao chão, queria que sua última visão fosse o belo crepúsculo daquele verão que havia começado tão bem. Pensou em seu filho, seu primogênito que agora cresceria ser ter a orientação do pai.

Sua respiração falhava, o sangue escorria de sua boca.

O sol começava a se esconder no horizonte, as montanhas gemeas pareciam maiores agora, queria poder olhar o brilho do sol por mais tempo, queria sentir o calor na face um pouco mais, mas até mesmo isso lhe foi negado. As sombras da noite chegaram rápido, não via estrelas, não havia lua, tudo estava quieto, um silêncio profundo o atingio.

Nada mais importava, estava em paz agora.

Um comentário:

  1. Bom eu acho que ele não deveria ter morrido uu', sacanagem =/. Preta

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