quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O FARDO



“Certa vez me perguntaram um de meus muitos defeitos, no momento não soube responder (talvez por existirem tantos), porém a pergunta não me deixou nem por um segundo.
Um dos meus principais defeitos, agora que pensei no assunto com cuidado, é o rancor que guardo. Sempre “senti” as coisas de uma forma um pouco mais exagerada do que a maioria das pessoas, quando estou alegre minha gargalhada chega a constranger alguns dos que me cercam, quando estou triste a melâncolia chega a dar pena, não seria diferente com as mágoas que carrego.
Por vezes me vejo conversando com alguém, porém enquanto o sorriso se faz presente, minha mente monta e remonta cada mentira que a mesma pessoa me contou, cada ferida que me foi aberta retorna e me sinto em uma sala de cinema onde sou o único espectador olhando para a tela gigante e revendo o momento no qual a ferida foi causada. Cada lágrima interna que foi derramada se transforma em combustivel me levando ao afastamento gradual pelo simples fato de não conseguir “deixar pra lá”.
Em determinadas situações meu afastamento é tão sorrateiro que a pessoa não chega a perceber minha ausencia até que seja tarde demais. Outras vezes meu afastamento é tão abrupto que não chegam a perceber o que foi feito de tão grave para que o afastamento ocorresse.
Na verdade o que poucos percebem é que por vezes não foi o ato final que causou toda a situação, ela apenas foi a gota derradeira que fez o copo transbordar, o rancor e as mágoas guardadas e acumuladas se fizeram pesados demais para me manter próximo de alguém que parece não se importar, ao mesmo tempo que não consigo apenas seguir em frente e deixar de lado as más recordações que sempre carrego.
Um fardo pesado demais para carregar, todavia, me é impossível deixar para traz.”