quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CONTO: PASSOS INSEGUROS


A chuva caía fina e irritante. Era o final de mais uma tarde, o sol se punha lentamente, mas seu brilho era pouco visto, mantinha-se escondido por detrás de nuvens cinzentas e melancólicas.

Ela caminhava apreensiva, segurava sua mochila contra o peito em um abraço forte, o frio daquele pálido entardecer era diminuído pelo capote branco que ela usava, sua cabeça estava protegida pelo capuz, mas ainda assim caminhava cabisbaixa. Evitava parar em sua caminhada de volta a sua casa, porém por vezes era forçada a isso para limpar as lentes dos óculos que teimavam em embaçar como se a chuva não fosse o suficiente. Seu caminhar seguia um compasso continuo num misto de pressa e prudência, forçando-se a não transparecer no caminhar o medo que sentia crescer segundo a segundo.

Seu coração estava apertado, o terror estampado na face oculta pelos óculos e capuz.

Ela sabia que mais a frente estaria um pouco mais segura, muito mais segura do que estava agora caminhando por uma rua estreita e deserta. Em seu caminho a sujeira fazia morada e caixotes de lixo estavam entulhados, prontos a transbordar. As poças de lama cresciam e se uniam em outras maiores a cada momento, mas ela não se importava em sujar as botas ou a roupa, contanto que fugisse dele.

Seus braços tremiam, não tinha mais a certeza se pelo vento frio que acompanhava a chuva que agora aumentava de intensidade, ou se tremia do medo. Ela podia sentir que ele se aproximava, podia ouvir sua respiração se aproximando, ouvia seus passos ao pisar nas poças. Ainda faltava muito para o fim da rua e então finalmente a avenida principal, o movimento, as pessoas, uma possibilidade de fuga.

Pelo canto dos olhos mirou uma janela fechada, o vidro serviu como um espelho precário, mas lhe deu a certeza indesejada, ele estava lá. Não viu seu rosto, este estava oculto por um guarda chuva preto, viu que usava botas negras e um sobretudo da mesma cor, ele, seu perseguidor era um homem alto e encorpado. Não viu, mas tinha a certeza que sorria de forma doentia como se o pânico dela o divertisse, como se o terror fosse agradável aquela criatura vil.

Porque me persegue?”. Pensava enquanto afundava o pé esquerdo em mais uma poça d’agua, poça essa que encharcou até o seu tornozelo.

O que eu fiz para me seguir?”. Atrapalhou-se com os passos e tropeçou, evitou a queda por pouco, mas não conseguiu segurar a mochila, o medo de parar e recuperar seu pertence era maior do que a sua força de vontade, resolveu deixar a mochila caída ao chão, lhe faltava coragem para parar. Continuou a caminhada, faltava pouco, já podia ver algumas pessoas andando na avenida principal.

Um som forte veio de sua direita, um barulho próximo e alto.

O grito de pavor não pôde ser contido, lágrimas rolaram em seu rosto misturado às gotas pesadas da chuva. Evitou a fonte do barulho voltando o rosto levemente para a direção contraria.

Murmúrios já eram ouvidos vindos da avenida principal, mas a voz forte de seu perseguidor a estremeceu, não ouviu com clareza, mas ele parecia ter dito “Garotinha, deixou cair sua mochila”. Sua voz estava alegre, talvez ele mantivesse um sorriso enquanto falava e isso a deixava ainda mais tensa, um homem como esse só poderia ser um louco, um doente.

Garota, a sua mochila!”. Dessa vez ele falou mais alto, quase um grito. Ela estremeceu com o chamado, mas não ousou se virar e encara-lo. Limitou-se a andar ainda mais rápido, praticamente corria para a avenida, mesmo que desajeitada e cambaleante. Seu tornozelo esquerdo doía mais a cada passo.

As pessoas continuavam a andar pela avenida, ela podia vê-los, mais alguns passos e estaria a salvo. A alegria e esperança diminuíram ao perceber uma sombra crescente vinda de trás, com certeza seu perseguidor tentaria segura-la, seu braço quase a tocava no ombro, pouco depois ela sentiu…

O toque gélido do perigo. Ela sentiu a visão ficar turva e escura, como se o manto sombrio da morte lhe envolvesse, mas não iria se entregar, faltava tão pouco para chegar ao ponto seguro, não poderia deixar ser levada agora. Lutou contra o medo que segurava suas pernas, sua mente agia depressa, mas seu corpo não acompanhava, não obedecia. Inclinou-se bruscamente para frente para fugir da mão maligna se seu perseguidor ainda pousada em seu ombro direito, em seguida usou o impulso para forçar suas pernas a lhe obedecerem. Deu certo, começou a correr, não tentou olhar para trás e ver se mantinha distância, ou se seu perseguidor estava perto, correu para se salvar.

Menina!” ouviu mais uma vez o chamado, mas ignorou por completo, faltavam poucos metros, poucos passos. Finalmente chegou a avenida e rapidamente se misturou. Somente quando o perigo já havia passado se deu conta de que seus documentos estavam em sua mochila. Ele ainda poderia encontra-la.

Entretanto estava a salvo, e isso era tudo o que importava por agora.

2 comentários:

  1. Não ACREdito que esse idiota maniaco, não fez nada. Meu coração quase pula pela boca e ela sai sem nenhum arranhão. Eu mesmo irei MATA-LA! hihi by: Lia

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  2. eu voltaria para pegar os documentos uu'. Preta

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