sábado, 19 de março de 2016

NOSSAS MUDANÇAS

Evitamos a mudança sempre que possível, mas nem sempre estamos dispostos a organizar tudo enquanto podemos. Estamos acostumados a jogar a poeira para debaixo do tapete, vamos procrastinando reflexões, atitudes, conversas. Vamos adiando a limpeza deixando a faxina para depois, até o ponto onde não se distingue mais o que está limpo do que está sujo, não reconhecemos mais a casa onde moramos frente a tanto entulho, tantas coisas fora de lugar, observamos tudo o que não se encaixa mais, e nesse momento decidimos que devemos mudar.
Desejamos que o novo seja melhor que o anterior, mas esquecemos de que o local é apenas uma casca onde nós somos o interior. Podemos mudar de espaço, mas carregamos nas costas os pesos outrora inquietantes, o que muda é a forma de organizá-los no novo espaço. Seria melhor uma faxina constante, pois assim tudo se ajeitaria sem que precisássemos fugir do que nos incomoda. Alias talvez fugir não seja a melhor palavra a se usar, uma vez que continuamos evitando aceitar que, sim, por vezes fugimos. Para nós é vergonhoso admitir a fuga de algo, damos preferência a palavras mais macias.
O processo de mudança quase nunca é agradável, mas se faz necessário.
Começamos com a coragem necessária para o ato, seguida da limpeza superficial, passamos a guardar coisas em caixas e nesse momento nos deparamos com a decisão do que fica conosco e o que não nos serve mais. Esse é o ponto crucial, e talvez por isso, muitas vezes negligenciado. Afinal se essa etapa fosse fácil, não precisaríamos mudar de fato, bastaria nos dedicar à faxina.
Mas mesmo sendo doloroso estamos em um ponto onde não há mais retorno e por isso temos que mudar. Entretanto em alguns momentos olhamos para trás, olhamos para a casa anterior, em alguns casos sentimos até um pouco de saudades. Todavia mudamos e assim como evitamos a faxina, assim como evitamos admitir que fugimos, também não aceitamos que vejam nossa antiga casa como ela era, o próximo inquilino não deve olhar para as antigas imperfeições, os arranhões causados pelos moveis, as manchas nas paredes, as marcas que por fim nos incomodaram ao ponto de nos fazer mover. E então pintamos tudo. As imperfeições ainda estão lá, porém escondidas por uma fina camada de tinta.
O próximo a ocupar aquele espaço finge que tudo está bem, pois não quer sair de um incomodo e aceitar que o novo espaço não é perfeito. E nós que mudamos ficamos felizes, pois temos a ilusão de que tudo será diferente e melhor.

Até que aproxima mudança seja necessária.

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