Evitamos
a mudança sempre que possível, mas nem sempre estamos dispostos a organizar
tudo enquanto podemos. Estamos acostumados a jogar a poeira para debaixo do
tapete, vamos procrastinando reflexões, atitudes, conversas. Vamos adiando a
limpeza deixando a faxina para depois, até o ponto onde não se distingue mais o
que está limpo do que está sujo, não reconhecemos mais a casa onde moramos
frente a tanto entulho, tantas coisas fora de lugar, observamos tudo o que não
se encaixa mais, e nesse momento decidimos que devemos mudar.
Desejamos
que o novo seja melhor que o anterior, mas esquecemos de que o local é apenas
uma casca onde nós somos o interior. Podemos mudar de espaço, mas carregamos
nas costas os pesos outrora inquietantes, o que muda é a forma de organizá-los
no novo espaço. Seria melhor uma faxina constante, pois assim tudo se ajeitaria
sem que precisássemos fugir do que nos incomoda. Alias talvez fugir não seja a
melhor palavra a se usar, uma vez que continuamos evitando aceitar que, sim,
por vezes fugimos. Para nós é vergonhoso admitir a fuga de algo, damos
preferência a palavras mais macias.
O
processo de mudança quase nunca é agradável, mas se faz necessário.
Começamos
com a coragem necessária para o ato, seguida da limpeza superficial, passamos a
guardar coisas em caixas e nesse momento nos deparamos com a decisão do que
fica conosco e o que não nos serve mais. Esse é o ponto crucial, e talvez por
isso, muitas vezes negligenciado. Afinal se essa etapa fosse fácil, não
precisaríamos mudar de fato, bastaria nos dedicar à faxina.
Mas
mesmo sendo doloroso estamos em um ponto onde não há mais retorno e por isso
temos que mudar. Entretanto em alguns momentos olhamos para trás, olhamos para
a casa anterior, em alguns casos sentimos até um pouco de saudades. Todavia
mudamos e assim como evitamos a faxina, assim como evitamos admitir que
fugimos, também não aceitamos que vejam nossa antiga casa como ela era, o
próximo inquilino não deve olhar para as antigas imperfeições, os arranhões
causados pelos moveis, as manchas nas paredes, as marcas que por fim nos
incomodaram ao ponto de nos fazer mover. E então pintamos tudo. As imperfeições
ainda estão lá, porém escondidas por uma fina camada de tinta.
O
próximo a ocupar aquele espaço finge que tudo está bem, pois não quer sair de
um incomodo e aceitar que o novo espaço não é perfeito. E nós que mudamos
ficamos felizes, pois temos a ilusão de que tudo será diferente e melhor.
Até
que aproxima mudança seja necessária.
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