terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O ÚLTIMO POR DO SOL

Só nos restavam algumas horas e nada mais.
A areia fina e morna sob nossos corpos se estendiam como um tapete até onde nossa visão alcançava. A brisa daquele final de tarde nos atingia e enchia nossos pulmões com o frescor do mar. As sombras dos coqueiros que nos protegeram durante o dia, agora se alongavam pela areia branca aumentando minha dor.
Sentados a olhar as belezas do nosso paraíso lutávamos contra o desejo de quebrar nosso acordo. Nosso tempo estava se esgotando e quanto maiores ficava as sombras, mais apertado eu a abraçava.
O sol se punha mais rápido do que eu desejava. Meu desejo era que ele nunca se escondesse, desejava que aquele momento não findasse, mas eles sempre chegam ao fim.
Eram dois corações que estiveram acostumados à dor e ao sofrimento. Dois corações que descobriram da pior maneira que as mesmas mãos que acariciam com ternura, também podem esmagar e prender.
O sol em puro sadismo pareceu despencar do céu até se esconder entre nuvens deixando o céu colorido de azul, cinza e laranja. Em um ponto distante a primeira estrela da noite brilhou.
Meu coração palpitava forte, palpitava como se desejasse abrir caminho para fugir de meu peito e se refugiar junto ao dela. Tenho certeza que ela sentiu o forte bater em suas costas, pois beijou minha mão e a repousou em seguida sobre seu peito. Senti o bater de seu coração e percebi que palpitava no mesmo ritmo que o meu.
O sol se foi, constelações vieram e a lua nos iluminou.
Permanecemos com sentados, abraçados, com os dedos entrelaçados por muito tempo. Seus cabelos soltos dançavam entregues ao vento, como eu já estava entregue em suas mãos.
Só nos restavam alguns minutos e nada mais.
Como conseguíamos forças para continuar com a promessa? Que bem viria do tolo pacto de não se apaixonar? Como poderíamos comandar nossos sentimentos? O que raios passou por nossa cabeça para jurar aproveitar apenas aqueles dias, sem se permitir envolver demais, sem deixar rastros para contatos a mais?
Conhecemos o amor naquela praia, ainda que só depois descobríssemos como nomear o que sentíamos, e por fim decidimos que seria no mesmo local a nossa despedida. Quão tolos fomos.
Dois corações que já foram feridos por se entregar demais e que por receio de sofrer novamente decidiram não correr o risco.
Dois corações que no silêncio das bocas revelavam tudo com os olhos. No silêncio das bocas revelavam tudo com a respiração. Revelavam tudo com o bater dos corações.
Um amor que se rendeu ao medo e aceitou o discurso de que se for para ser, será. Um dia o destino fará nossas vidas voltar a se cruzar.

Não nos restou mais tempo algum.

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